Sunday, December 03, 2006

A luta por um olhar

Os olhos são grandes. Espremidos, parecem querer saltar fora rosto magro de Pedro. A pele é enrugada e confere um ar de velhice ao menino que vive apenas há quatro anos. A barriguinha inchada engana, mas a saliência das costelas que a sobrepõem revelam o sofrimento de quem não tem o que comer.
Sem força para sustentar os ossos raquíticos, Pedro rasteja pelas ruas. A fome não o deixa dormir, pensar, viver.
As lágrimas da criança já não fazem diferença às pessoas que, apressadas, o encontram atirado. Elas têm muito que fazer, ele não. Quando nasceu, a mãe sabia que o destino do filho seria vagar pelo centro da cidade em busca da sobrevivência. No entanto, ela não imaginava que a dor do infante não fosse notada em virtude da correria dos cidadãos. Ainda na esperança de quem luta pela vida que pôs no mundo, ela ora por Pedro e pede às pessoas que olhem para baixo de seus joelhos, onde deita o menino. No silêncio dos adultos, Pedro grita por comida e chora de fome. Ele poderia não querer e desistir, mas, apesar do pouco tempo de existência, o pequeno sente que também tem o direito de viver.

Pedro é um personagem que representa muitas das crianças que habitam o Brasil. A pressa cotidiana impede que se vejam os Pedros, os Joãos, as Marias e os Josés. Mas eles estão lá, esperando por um olhar que os compreenda ou por um gesto que lhes traga o pão de cada dia.

O Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares registrou que 815 milhões de pessoas não têm o que comer.
São 127 milhões de crianças que sofrem de insuficiência alimentar em todo o mundo.
No Brasil, 10% da população é considerada desnutrida. Nos últimos 20 anos, o país reduziu o problema pela metade. Isso mostra que é possível erradicar a dor que assola a população. Dor de quem sente, dor de quem vê.

Se nunca passaram fome, então é um convite olhar ao redor e saber que essa realidade existe. Sensibilização e conscientização constituem os primeiros passos para ajudar os tantos Pedros, os Joãos, as Marias e os Josés que lutam para sobreviver.
Ana Maria Bicca

1 Comments:

Blogger Carolina Tavaniello P. de Morais said...

Fome...infelizmente faz parte do nosso país. Enquanto alguns (poucos) acumulam riquezas, outros (muitos) acumulam fome e miséria. Ontem, em uma banca de revistas, li a chamada da matéria principal: "Por que os ricos estão cada vez mais ricos?" e pensei: "Porque os pobres estão cada vez mais pobres." É uma resposta óbvia! No Brasil, o esquema é o seguinte: todos ajudam para que o país cresça, mas na hora de dividir os lucros conquistados, eles esquecem de todos que trabalharam para que o país crescesse. Parece um ciclo sem fim. Está na hora de parar de pensar somente em si e perceber que é preciso fazer algo para que aja maior igualdade social. Assim, quem sabe, possamos viver em uma sociedade não igualitária, mas menos desigual.

7:43 AM  

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